Editorial

A burocracia que mata

A indignação que tomou conta de milhares de pelotenses com a morte da menina Larah Silveira de Oliveira, com apenas 98 dias de vida, é a mesma que cortou a Redação do DP na manhã de quarta-feira, quando a informação chegou e foi confirmada pela equipe. Primeiro a ter reportado o drama dos pais na busca pelo tratamento da filha, notícia logo replicada por outros veículos locais e estaduais, o Jornal inteiro lamentou que, diferente de outras tantas histórias do tipo contadas em nossas páginas, site e redes sociais, desta vez não houve final com solução que garantisse a vida e a saúde da bebê.

Mais do que informar a triste perda de Larah, coube ao jornalismo do DP partir em busca da repercussão e, principalmente, das explicações de autoridades da área da saúde e hospitais diretamente envolvidos no caso. Afinal de contas, a sociedade precisa conhecer os argumentos de quem tem o dever de proteger a vida e, neste episódio, falhou. Individual ou coletivamente. O fato inquestionável na morte da menina é que o sistema não foi eficiente, não deu conta de garantir a transferência para um local adequado às necessidades de exames e procedimentos que dariam esperança à família de ver a criança crescer. E isso mesmo diante de decisões judiciais em sequência que alertavam para o quadro grave e a agilidade imprescindível com que a remoção a um leito em Porto Alegre, pelo SUS ou privado, custeado pelo Estado, deveria ocorrer. Ou seja, além de não oferecer a garantia constitucional básica à saúde, o poder público também ignorou a Justiça.

Pois ao buscar a palavra dos gestores responsáveis, desde a matéria inicial, quando Larah ainda lutava pela vida, o que a reportagem encontrou foi sempre a esquiva. Municípios (Pelotas e Porto Alegre) e Estado trataram de justificar a morosidade e falta de resolutividade com respostas que, no fundo, colocam a burocracia acima da vida. "Regulação", "sistema", "cadastro", "referência", "análise", "governabilidade". Estes foram alguns dos termos usados antes e depois do desfecho traumático do caso.

Esta certamente não foi a primeira morte de um paciente à espera de tratamento adequado à sua doença. No entanto, o impacto que isso provocou em Pelotas e no Estado precisa, obrigatoriamente, gerar reflexão na gestão de saúde pública no Rio Grande do Sul e dos municípios. Larah morreu presa à burocracia e à incompetência de quem tem cargos importantes e bons salários para que resolvam, também e sobretudo, este tipo de problema. Notas frias via assessoria de imprensa, empurrando a responsabilidade, estão longe de explicar o descaso e descumprimento de despachos judiciais.

A dor imensurável de Dariane e Maurício, pais de Larah, não tem solução. Conta apenas com a solidariedade de todos os pelotenses, na esperança de que histórias como essa jamais precisem ser contadas novamente pela imprensa.

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